A recente publicação da Nota Técnica 181/2025, pela Receita Federal do Brasil, gerou forte reação entre diversas entidades representativas do setor produtivo. A medida, que altera o fluxo de registro de pessoas jurídicas no ambiente da REDESIM por meio do novo Módulo AT, foi considerada um retrocesso por federações e confederações de todo o País.

Entre os principais críticos está a presidente da Federação Nacional das Juntas Comerciais (Fenaju), Gregória Benário Lins e Silva. Para ela, a decisão da Receita foi unilateral, contrariando o que já havia sido deliberado no Grupo de Trabalho de Sistemas do CGSIM — instância que reúne representantes da União, estados e municípios.

“Essa mudança rompe com o pacto federativo, ignora decisões conjuntas e insere uma nova etapa no processo da REDESIM, que poderia perfeitamente estar integrada ao fluxo atual”, afirmou Gregória.

Ela alerta ainda que a nova regra pode representar um verdadeiro retrocesso no processo de abertura de empresas. “Estamos voltando mais de uma década. O empreendedor que já obtiver o registro na Junta Comercial precisará iniciar um novo processo junto à Receita para conseguir o CNPJ. Isso vai aumentar significativamente o tempo de abertura de empresas, que hoje pode ser feito em um único dia.”

Entidades pedem diálogo e revisão da medida

Frente às preocupações, confederações como Sesc, Senac, CNA, CNSeg, CNSaúde, Fin e CNI divulgaram uma carta conjunta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad. No documento, destacam os riscos operacionais da mudança e se colocam à disposição para debater alternativas mais viáveis.

“As alterações, embora bem-intencionadas, trazem dúvidas sobre sua viabilidade técnica e operacional, além de potenciais impactos negativos no ambiente de negócios brasileiro”, diz o texto.

A carta elenca cinco pontos críticos:

  1. Nova exigência na inscrição do CNPJ
    A empresa precisará definir o regime tributário (Simples Nacional ou outro) já no ato de registro — uma decisão estratégica que, atualmente, pode ser tomada até 30 dias depois da abertura.

  2. Aumento da burocracia
    O número do CNPJ passará a depender do preenchimento de novos questionários no Portal Redesim, que ainda não estão plenamente divulgados. Isso pode causar atrasos no processo, hoje realizado em até dois dias úteis.

  3. Fragmentação do processo
    A nova etapa quebra a integração atual entre os sistemas das Juntas Comerciais e o Portal Redesim, comprometendo os avanços tecnológicos e operacionais conquistados nos últimos anos.

  4. Prazos tecnicamente inviáveis
    Nenhuma das 27 Juntas Comerciais estaduais — nem a do Distrito Federal — declarou estar apta a cumprir o cronograma proposto pela Receita. As entidades consideram o prazo inexequível.

  5. Pedido oficial de revisão
    O convênio Redesim Conectada já solicitou formalmente a revisão do cronograma, alertando para riscos como retrabalho, insegurança jurídica e aumento da burocracia para os empreendedores.

Apelo por construção conjunta e respeito à governança federativa

Ao final do documento, as entidades reiteram seu compromisso com a desburocratização e pedem diálogo:

“É urgente reavaliar o escopo, os prazos e os meios de implementação do novo módulo, sobretudo pelo impacto direto nas micro e pequenas empresas”, conclui a carta.

As organizações também reafirmam a importância de decisões conjuntas, reforçando a necessidade de previsibilidade normativa, segurança jurídica e respeito às instâncias colegiadas que integram a governança do processo de registro empresarial no país.


Fonte: Gazeta de S. Paulo – Nova regra da Receita Federal preocupa e é considerada retrocesso por entidades

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